
Luta pela paz e pela dignidade humana são legados do papa Francisco para o mundo
O papa Francisco morreu, nesta segunda-feira (21/4), aos 88 anos. No mês passado ele passou 38 dias internado para tratar uma bronquite que causou dificuldades respiratórias. O pontífice estava no Hospital Gemelli, em Roma, e foi diagnosticado com pneumonia bilateral.
Em última mensagem durante a celebração de Páscoa, o papa pediu pela paz no mundo e pelo desarmamento. Em um forte e claro recado, Francisco alertou que os gestores devem priorizar a criação de mecanismos de combate à fome e não se deixarem render pela lógica da violência.
História do papa Francisco
Francisco foi eleito papa em 13 de março de 2013. Além dele ter sido o primeiro sacerdote latino-americano a se tornar papa, o religioso se destacou por discursos em favor da paz e do respeito a todas as pessoas, independente de gênero, orientação sexual ou nacionalidade.
O padre Roger Araújo, da Arquidiocese de Brasília, pontuou que o Papa Francisco manteve uma “serenidade espiritual sem igual”. “O pontificado dele teve essa característica, foi marcado pela luta em favor da paz, da concórdia, do respeito à pessoa humana. O papa ofereceu seu sofrimento, suas dores pelas dores da humanidade. Ele foi um combatente das injustiças sociais”, afirmou.
Papa em defesa da comunidade LGBTQIA+
O “estilo de Deus é proximidade, misericórdia e ternura”. Assim escreveu o Papa Francisco em resposta às perguntas feitas pelo padre jesuíta James Martin, que realiza apostolado entre as pessoas LBTQIA+. “Deus é Pai e não renega nenhum de seus filhos”, acrescentou.
Em 2023, o Vaticano autorizou bênçãos não litúrgicas para casais do mesmo sexo. Meses depois, o pontífice disse que vê “hipocrisia” em quem critica a decisão de permitir bênçãos a casais homossexuais. “Ninguém se escandaliza se eu der minhas bênçãos a um empresário que talvez explore pessoas, e isso é um pecado muito grave. Mas eles se escandalizam se eu as dou a um homossexual”, disse o pontífice à revista católica italiana Credere.
Em junho de 2024, o papa recebeu pessoas trans e homossexuais na Praça São Pedro. “O Papa nos acolheu. Nem sei como descrever isso. Elas querem muito bem a ele porque é a primeira vez que pessoas trans e gays são acolhidas por um Papa. Agradeceram-lhe porque finalmente encontraram uma Igreja que foi ao encontro delas”, disse a irmã Geneviève Jeanningros, da Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus.
Defesa da paz até o fim
O papa Francisco sempre discursou em favor da paz, lembrando que a guerra é sempre uma derrota. “Penso em tantos países que estão em guerra. Irmãs e irmãos, oremos pela paz. Façamos o máximo possível pela paz. Não se esqueçam de que a guerra é uma derrota. Sempre. Não nascemos para matar, mas para fazer os povos crescer”, disse o pontífice no final da Audiência Geral do dia 12 de fevereiro.
Caminhos
“Que possamos encontrar caminhos de paz. Por favor, em suas orações diárias, peçam pela paz. A atormentada Ucrânia… como ela sofre. Pensem tamnbém na Palestina, em Israel, em Mianmar, em Kivu do Norte, no Sudão do Sul. Tantos países em guerra. Por favor, oremos pela paz. Façamos penitência pela paz”, acrescentou o religioso.
Mesmo hospitalizado, o papa ligou para o padre Gabriel Romanelli, da Paróquia da Sagrada Família em Gaza. O pároco disse que, apesar de ter tido um apagão em toda a área da Cidade de Gaza, o pontífice insistiu e conseguiu entrar em contato com a paróquia por meio de uma videochamada. ““Desde o início da guerra, ele ligava todos os dias para rezar, para dar a sua bênção, para cuidar das pessoas”, disse o padre.
Varanda da basílica
No domingo (20/4), o papa Francisco apareceu na varanda da basílica de São Pedro no Vaticano, desejou uma “Feliz Páscoa” aos fiéis, refletiu sobre paz e pediu desarmamento em todo mundo.
“Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento”, disse. O pontífice também mencionou os conflitos na Faixa de Gaza, no Líbano, na Síria, no Iêmen e na Ucrânia.
“Sinto-me próximo dos cristãos que sofrem na Palestina e em Israel, bem como do povo israelita e palestiniano. É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em particular, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil”, citou o papa.
Imigrantes
No mês passado, o Papa Francisco escreveu uma carta à Conferência Episcopal dos Estados Unidos, defendendo “uma política que regule a migração ordenada e legal”.
“O ato de deportar pessoas que, em muitos casos, deixaram a própria terra por razões de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou grave deterioração do meio ambiente, fere a dignidade de tantos homens e mulheres, de famílias inteiras, e os coloca em um estado de particular vulnerabilidade”, afirmou o pontífice.
“A família de Nazaré no exílio, Jesus, Maria e José, que emigraram para o Egito e lá se refugiaram para escapar da ira de um rei ímpio, são o modelo, o exemplo e a consolação dos emigrantes e dos peregrinos de todas as épocas e de todos os países, de todos os refugiados de qualquer condição que, assaltados pela perseguição ou pela necessidade, são obrigados a deixar a pátria, a sua querida família e os seus queridos amigos para ir para uma terra estrangeira”, emendou o religioso.
Inteligência artificial
Francisco enviou uma mensagem à Cúpula de ação sobre Inteligência Artificial que teve início, em Paris, em 10 de fevereiro. O pontífice afirmou esperar que seja criada uma plataforma na qual a tecnologia possa ser um instrumento para combater a pobreza.
“Espero que a Cúpula de Paris trabalhe para a criação de uma plataforma de interesse público sobre inteligência artificial, para que cada nação possa encontrar na inteligência artificial um instrumento para seu próprio desenvolvimento e para a luta contra a pobreza, mas também para a proteção de suas culturas e línguas locais”, disse.
Povos indígenas
Na VII Reunião do Fórum dos Povos Indígenas, em 10 de fevereiro, o papa Francisco fez um apelo em favor dos direitos das populações indígenas e chamou a atenção para “o aumento do acúmulo das terras de cultivo por parte de empresas multinacionais, os grandes investidores e os Estados”.
O pontífice afirmou que “a defesa do direito a preservar a própria cultura e a identidade passa necessariamente pelo reconhecimento do valor de sua contribuição para a sociedade e para salvaguardar sua existência e a dos recursos naturais de que necessitam para viver”.
“Defender, pois, estes direitos não é somente uma questão de justiça, mas também a garantia de um futuro sustentável para todos. Animados pelo sentido de pertença a família humana podemos conseguir que as gerações futuras gozem de um mundo em consonância com a beleza e a bondade que guiaram as mãos de Deus ao criá-lo”, disse o Santo Padre.
Prisões
Na Quinta-feira Santa da Quaresma de 2025, o papa Francisco visitiou uma prisão e conversou com os detentos. Ao sair do local, declatou aos jornalistas presentes: “Cada vez que entro nestes lugares, me pergunto: por que eles e não eu? Vivo (a Páscoa) como posso”. Em função do problema de saúde, não pôde realizar o tradicional lava-pés.
Lava pés
No ano passado, no entanto, o Papa Francisco lavou os pés de 12 mulheres em uma prisão em Roma, na Itália, em um dos ritos mais tradicionais da Semana Santa em 2024. Foi a primeira vez que o papa lava os pés apenas de mulheres durante o serviço especial anual.
Francisco também celebrou no presídio de Rebibbia a homilia “In coena Domini”, a missa de lava-pés, e lembrou que o ritual remete à vocação para servir. “Com o lava-pés, Jesus se humilha e nos faz entender o que ele disse: ‘Eu não vim para ser servido, mas sim para servir”, declarou o papa.
Direitos das crianças
“Se eu pudesse fazer um milagre, qual milagre eu faria? É fácil: que todas as crianças tenham o necessário para viver, comer, brincar, ir à escola. Este é o milagre que eu gostaria de fazer”, disse Francisco, ao responder a pergunta de uma criança da Indonésia, na I Jornada Mundial das Crianças realizada no Estádio Olímpico de Roma, em maio de 2024.
O pontífice ainda destacou a importância de amar e proteger as crianças. “Não é aceitável o que infelizmente nos últimos tempos temos visto quase todos os dias, ou seja, crianças que morrem sob as bombas, sacrificadas aos ídolos do poder, da ideologia e dos interesses nacionalistas. Na realidade, nada vale a vida de uma criança. Matar os pequenos significa negar o futuro”, citou.
Diversidade na igreja
Para a nomeação de cardeais, Francisco priorizou dioceses remotas — em lugares onde os católicos são minoria — rompendo com o costume de nomear religiosos de grandes dioceses, como Milão ou Paris. Em dezembro de 2024, o pontífice nomeou 21 cardeais, com uma representação importante da América Latina e da Ásia, mas apenas dois da África (os de Abidjan, na Costa do Marfim, e Argel).
“Ao fixar seu olhar em vocês, que vêm de diferentes origens e culturas e representam a catolicidade da Igreja, o Senhor os chama para serem testemunhas da fraternidade, artesãos da comunhão e construtores da unidade”, disse o papa na ocasião.
As últimas aparições
No domingo (20/4), o papa Francisco apareceu na varanda da basílica de São Pedro no Vaticano e desejou uma “Feliz Páscoa” aos milhares de fiéis reunidos no Vaticano para celebrar a ressurreição de Cristo.
O pontífice também refletiu sobre paz e pediu desarmamento em todo mundo. “Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento”, disse.
“Estas são as ‘armas’ da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte! […] Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade”, acrescentou o papa.
Sábado
No sábado (19/4), o papa Francisco recebeu o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance. Ambos “trocaram seus votos por ocasião do dia de Páscoa”, informou a Santa Sé em um comunicado. No encontro, eles abordaram “a situação internacional, em particular nos países marcados pela guerra, as tensões políticas e situações humanitárias difíceis, com especial atenção aos migrantes, refugiados e prisioneiros”.
Na quinta-feira (17/4), o pontífice visitou uma prisão no centro de Roma, onde se reuniu com detentos por ocasião da Quinta-feira Santa. Ao contrário de anos anteriores, o jesuíta argentino não realizou o tradicional ritual de lavagem dos pés. “Este ano, não posso fazê-lo, mas sim, eu posso e quero estar perto de vocês. Rezo por vocês e por suas famílias”, afirmou o papa.
Aparição surpresa
No Domingo de Ramos (13/4), o papa Francisco fez uma aparição surpresa na Praça de São Pedro. “Irmãos, irmãs, para experimentar este grande milagre da misericórdia, escolhamos como levar a cruz, durante a Semana Santa: não ao pescoço, mas no coração. Não só a nossa, mas também a daqueles que sofrem ao nosso lado; talvez a daquela pessoa desconhecida que o acaso – Mas será mesmo o acaso? – nos fez encontrar. Preparemo-nos para a Páscoa do Senhor tornando-nos cireneus uns dos outros”, destacou o pontífice.
Em 9 de março, o papa recebeu a visita do Rei Charles III e a Rainha Camilla. Durante o encontro, o pontífice argentino felicitou o casal por ocasião do aniversário de 20 anos de casamento e também desejou que Charles III, que está em tratamento contra o câncer, tenha uma rápida recuperação.
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