
Assista, ao final do texto, à entrevista com a pneumologista Margareth Dalcomo, conduzida pelo também pneumologista Mauro Gomes. Foto: Reprodução
Cancelar eventos e manter os idosos em casa estão entre as recomendações da pneumologista Margareth Dalcomo, que participou, recentemente de reunião do Ministério da Saúde (MS) e Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o combate ao Coronavírus. A especialista alertou que o Brasil precisar adotar medidas preventivas para evitar chegar ao nível em que a Itália se encontra atualmente.
Em vídeo publicado nas redes sociais – assista ao final do texto – a pneumologista alertou que o país deve atingir o pico epidêmico dentro de um mês e meio. Com base em relatos de colegas da Itália, Estados Unidos e Espanha, ela destacou que 80% das pessoas infectadas são de casos leves. Os outros 20% evoluem para casos graves. Desses, 5% evoluem para insuficiência respiratória.
Margareth Dalcomo participou de encontro do MS com a Organização Panamericana de Saúde e OMS, que reuniu representantes da comunidade médica de diversos países para tratar sobre Covid-19. A participação dela ocorreu por meio da Fiocruz e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
O MS convocou a reunião para, a partir do encontro, elaborar recomendações para precaução e tratamento de casos de Coronavírus no Brasil.
Após participar da reunião, Margareth defende que o país se antecipe, para que não chegue a ficar como a Itália. “Nós somos, hoje, o que a Itália era há um mês. Hoje a Itália tem essa catástrofe epidemiológica e humanitária que nós estamos vendo”, disse.
Segundo a especialista, a comunidade médica reconhece que a doença está se instalando no Brasil. “A epidemia é crescente. Esperamos o pico epidêmico, calculado pelos epidemiologistas, para daqui um mês e meio. Esperamos que daqui a duas semanas tenhamos aproximadamente mil casos no Rio de Janeiro, mais mil casos em São Paulo”, projetou.
No encontro, médicos de países como a Itália, EUA e Espanha compartilharam experiências pelas quais passaram nas últimas semanas, em meio à expansão do Coronavírus. “Havia, inclusive, um colega espanhol que ficou conosco o tempo todo; colegas dos Estados Unidos, o Dr. Kaliu que tem conduzido um ensaio clínico com tratamento com antiviral em pacientes nos EUA”, relatou a médica.
Insuficiência respiratória preocupa
A pneumologista informou que 80% dos casos da doença são considerados leves. Os pacientes desse grupo podem ser tratados em casa. “[Os outros] 20% dos casos evoluirão com gravidade, necessitando de internação hospitalar e, desses, 5% vão necessitar de ventilação mecânica. São casos que vão evoluir para insuficiência respiratória grave”, alertou.
A recomendação para os casos mais graves é a entubação “precoce” dos pacientes. “Uma vez que ventilação não invasiva seria capaz de aerossolizar [dispersar a doença] e, portanto, aumentar o risco de transmissão local desse patógeno [vírus”, destacou.
Margareth contou que ouviu relatos dramáticos de colegas médicos de outros países sobre os casos de insuficiência respiratória. “A Lombardia [na Itália), ontem [dia 12 de março], tinha 580 pacientes em ventilação mecânica. Só na Lombardia. Ninguém tem esse número de respiradores. Chineses estão doando, nesse momento, 800 respiradores para a Itália, num gesto humanitário, para auxiliar”, explicou..
Medidas no Brasil
De acordo com a especialista, o desejo dos epidemiologistas e clínicos é o “achatamento” da curva epidêmica no Brasil. “Que nós não sejamos o que é a Espanha hoje. Madri está em via de ser fechada como cidade. Todos os museus. Madri está com um número de casos enorme. A Itália com quase mil mortos”, destacou. A Espanha fechou fronteiras neste domingo (15).
Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) apresente dificuldades quanto à organização em determinados locais, os especialistas esperam que o modelo dê uma resposta “robusta” à epidemia no país.
A médica destacou que ainda não há recomendação oficial sobre tratamentos eficazes contra a doença. “A posição consensual que nós tivemos foi que nós não vamos recomendar nenhum esquema. Todas essas experiências, nesse momento, não têm nenhum grau de evidência que nos permita recomendar”, disse.
Segundo a pneumologista, a China e os EUA têm realizado testes com medicamentos e os resultados devem sair em um mês e meio, quando, de acordo com ela, o Brasil estará vivendo o pico epidêmico do vírus.
Transmissão fácil
Margareth Dalcomo ressaltou que a transmissão da doença é fácil e veloz. “Nós estamos tratando de um patógeno que, ao contrário do H1N1, é muito mais transmissível. Então, dois transmitem para quatro, quatro para 16, é geométrico”, informou.
Mortes
Como as autoridades em saúde têm alertado, a doença é mais letal para idosos. Na China, a letalidade em pessoas acima de 75 anos é de 15%, segundo a médica.
“Essa é a doença que mata gente de idade, pessoas idosas e pessoas que têm comorbidade [ocorrência de duas ou mais doenças]. Pacientes que faleceram jovens eram portadores de condições prévias, doenças prévias, autoimunes, transplantados de órgão, com HIV. No nosso caso, por exemplo, paciente com tuberculose, no meio do tratamento, [caso] se contamina, a probabilidade de morrer fica muito grande pela associação dessas duas coisas comorbidades”, disse.
A recomenda é que os idosos permaneçam em suas casas.
A médica acredita que essas recomendações devam durar pelos próximos 60 dias.
Máscaras
A médica recomendou apenas pessoas com a imunidade baixa usem máscaras. “Nós recomendamos que as pessoas não saiam desesperadamente comprando todas as máscaras do mercado, porque nós, profissionais de saúde, vamos precisar das máscaras para trabalhar e nós vamos precisar de máscara N95, máscaras maiores. Portanto, não comprem todas do mercado”, disse.
Ela lembrou que já faltam máscaras no Rio de Janeiro. Em Manaus, Procon-AM também identificou a falta de estoque desse material e álcool em gel em estabelecimentos comerciais visitados no sábado (14).
Isolamento
Com base em estudos, a pneumologista disse que a melhor maneira de conter a cadeia de transmissão do vírus é o isolamento social. “A única maneira de interceptar a transmissibilidade desse novo patógeno, desse novo desafio é, realmente, deixar as pessoas em casa. É o que a China fez. Foi assim que ela conseguiu. Ainda que não tenha sido o modo mais democrático, mas foi assim que a China conseguiu diminuir a sua curva epidêmica. É a única maneira. É como a Itália está fazendo. É como, seguramente, a Espanha vai fazer também”, exemplificou.
A pneumologista listou uma série de recomendações, parte delas já divulgadas pelos governos, para prevenção ao Coronavírus. Confira:
– Quem chegar de viagem assintomático (sem sintomas) ao Brasil deve ficar sete dias em casa;
– Cancelar eventos, sejam eles familiares, como festas infantis, ou com número maior de pessoas;
– Cancelar de viagens, sobretudo internacionais, pelos próximos 90 dias. Caso seja inevitável viajar, usar luvas e máscaras.
– Sair de casa somente se for estritamente necessário;
– Evitar ir cinemas, teatros e outros locais com aglomeração de pessoas;
– Manter os idosos em casa;
– Só procurar as emergências se apresentar os sintomas da doença. Febre alta e falta de ar são sintomas a serem considerados, nesse caso;
Além dessas recomendações formais, a médica sugeriu o uso de máscaras em pacientes e acompanhantes em consultórios particulares e que os pais evitem piscinas de bolinhas.
Ela afirmou que detergentes e limpa-vidros são eficazes na limpeza de locais contaminados e que transportes coletivos apresentam alto risco de transmissão do vírus.
Para finalizar, a especialista destacou que é necessário seguir as recomendações e evitar pânico.
Assista, na íntegra, à entrevista com a pneumologista Margareth Dalcomo, conduzida pelo também pneumologista Mauro Gomes:
O vídeo também está disponível no link: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=236563334181009&id=142923062450160.
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