
Foto: Divulgação/Fiocruz Amazônia
O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) sediou o treinamento das equipes de campo que atuarão no Projeto Diagnóstico das Unidades Básicas de Saúde Fluviais. Nesta primeira fase, o projeto é coordenado pela ONG Projeto Saúde & Alegria, de Santarém (PA), em parceria com Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Universidade Federal do Pará, Instituto de Estudos Para Políticas de Saúde (IEPS) e Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), com financiamento da Vale S.A.
A atividade aconteceu ao longo de três dias – 10, 11 e 12/03 –, em Manaus, e reuniu parte dos profissionais que atuarão como coordenadores, pesquisadores em saúde, pesquisadores navais e assistentes de campo nas equipes de pesquisa. Num segundo momento, houve treinamento para as demais equipes, entre os dias 13 e 15/03, em Belém (PA).
O objetivo do projeto é identificar as condições de funcionamento das UBS fluviais que recebem financiamento do Governo Federal. O trabalho será realizado por meio de expedições às calhas dos rios nos Estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá e Roraima, com a aplicação de questionários que permitirão um diagnóstico completo da situação atual das UBSF. O projeto abrangerá um total de 51 municípios, com as expedições ao Marajó, Belém/Rio Tocantins, Pará/Amapá, Médio/Alto Solimões, Rio Negro, Parintins, Manaus, Madeira e Acre.
Com dois anos de duração, a pesquisa visa subsidiar projetos de reativação, ampliação e qualificação das Estratégias de Saúde da Família na Amazônia.
“Neste momento, o Projeto Diagnóstico Situacional das UBSF atuará como colaborador na condução deste treinamento, que é organizado pelo Projeto Saúde e Alegria (PSA) e parceiros, como uma etapa preliminar da coleta de dados para a pesquisa. Essa etapa tem como finalidade promover conexão, união e o engajamento de todos os pesquisadores de campo envolvidos”, explica o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias, coordenador geral da 2ª fase do projeto.
Foram compostas seis equipes de campo, formadas por profissionais e pesquisadores da área da saúde e profissionais da área naval. Cada equipe é composta por quatro pessoas.
Embarcações
De acordo com o professor da UFPA, André Vinicius Araújo, consultor do PSA e responsável pela coordenação logística das expedições, as atividades de campo serão iniciadas no próximo dia 17/03 e deverão se estender até o mês de maio. Serão avaliadas no total 53 embarcações, ao longo das seis expedições.
“Produzimos instrumentos de pesquisa tanto para avaliação dos barcos, na parte estrutural e de equipamentos, para conversar com o comandante dos barcos, bem como instrumentos de entrevistas com os gestores, profissionais de saúde e usuários”, explica. Cada equipe é formada por quatro profissionais, selecionados por meio de edital em todo o País.
Importância
O treinamento foi aberto pela vice-diretora de Pesquisa e Inovação da Fiocruz Amazônia, Michele Rocha El Kadri, que ressaltou a importância do desafio que ora se inicia com as atividades de campo. “Esse é um projeto que construímos com muito carinho, assim como a própria política pública de saúde fluvial inicialmente pensada como um barco-hospital, com a proposta de levar educação, saúde e a popularização da ciência, e que inspirou as UBSFs. Agora, após dez anos da implementação da estratégia, precisamos saber como estão funcionando as unidades fluviais. O primeiro modelo de UBS fluvial foi aplicado no município de Borba (AM) e veio se expandindo, com melhoramentos. Atualmente é uma política que está em evolução”, afirmou El Kadri.
A vice-diretora destacou ainda a importância das UBSFs para a realidade da Saúde no interior da Amazônia. “Quem conhece a nossa realidade ribeirinha no interior, sabe o quanto é preciosa a presença do Estado brasileiro, representado pelas UBS Fluvais, para as populações ribeirinhas. Todos que estão nessa equipe, tenho certeza, estão apaixonados por esse modelo e principalmente pelo fato de que esse trabalho dará subsídios para melhorarmos a política de saúde fluvial, o que significa dizer que faremos a pesquisa que importa. Sejam todos bem-vindos a esse barco”, saudou.
André Vinicius explica que, após o levantamento das informações pelas equipes de campo, será feita a análise dos dados pela Fiocruz Amazônia e os apontamentos necessários em melhorias que podem ser feitas nas embarcações, tais como relocações, instalação de placas solares, sistema de diminuição de ruído, tratamento de esgotos, entre outras. “Esse material será consolidado e encaminhado ao Ministério da Saúde com sugestões de aperfeiçoamento da política pública de saúde fluvial no País”, afirma.
Orientações
Durante o treinamento, foram repassadas orientações sobre a aplicação dos questionários (por meio do software REDCap, utilizado na coleta, gerenciamento e disseminação de dados de pesquisa), além das atribuições de cada membro das equipes, metodologia de trabalho e apresentação dos questionários. Os profissionais receberam também crachás de identificação, colete, equipamentos de proteção individual e os tablets que serão utilizados para as coletas de dados.
A assistente social Flávia Ribeiro, 31 anos, de Brasília, afirma estar empolgada com a experiência. “Tive contato com o Projeto Saúde e Alegria e estou muito empolgada. Vou para a expedição do Acre como assistente de campo e encontrei no projeto a chance de vivenciar o melhor dos dois mundos, viajar, conhecer culturas, ver a realidade de perto, poder registrar esse trabalho, sair da minha zona de conforto e servir a uma pesquisa que é tão valiosa, principalmente no que se refere à assistência à Saúde na Região Norte”, comenta. Flávia atuará na pesquisa em seis municípios do Acre.
Projeto Saúde e Alegria
O Projeto Saúde e Alegria (PSA), desenvolvido desde 1987, na Amazônia brasileira, trabalha levando serviços de saúde para populações ribeirinhas na região de Santarém, no Oeste do Pará. O barco-hospital Abaré I, inaugurado em 2006, serviu como base para a proposta de embarcação que ofertasse serviços de Atenção Primária.
Em 2011, a Política Nacional de Atenção Básica trouxe como inovação arranjos de Equipe de Saúde da Família Riberinha e Equipes de Saúde da Família Fluvial, para atuar nas Unidades Básicas de Saúde Fluvial. Em 2013, foi inaugurado no município de Borba a 1ª UBS Fluvial , de acordo com as diretrizes do PNAB.
“Essa política pública se disseminou para a região amazônica e pantanal sul-matrogrossense, originando as Unidades Básicas Fluviais e a ideia do projeto é verificar quantas estão em campo ou não, por questões de financiamento, gerenciamento dos municípios, entre outros fatores, a exemplo da adequação para a navegabilidade dos rios”, afirmou Marcela Brasil, representante do PSA e uma das coordenadoras do treinamento.
O Projeto Saúde e Alegria é uma iniciativa civil sem fins lucrativos que atua promovendo e apoiando processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável. Com um intenso trabalho de mobilização social, a equipe do PSA traz as comunidades para o centro das decisões sobre os programas que implementa, de forma a gerar benefícios reais e duradouros em organização social, meio ambiente, saúde, educação, economia, cultura e inclusão digital, entre outros, visando a melhorar a qualidade de vida e o exercício da cidadania.
Após estudar o modelo de navio-hospital do PSA, o Ministério da Saúde lançou em 2011 o Programa Saúde da Família Fluvial, uma política de saúde pública para toda a área da Amazônia Legal e do Pantanal. Com esse novo e importante passo, o Abaré I foi integrado ao SUS e credenciado como a primeira Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) do Brasil.
Em 2017, o navio-hospital Abaré I obteve mais uma conquista: foi doado para a Universidade do Oeste do Pará (UFOPA), e além de continuar operando como UBSF, tornou-se um hospital escola, com atividades de ensino, pesquisa e extensão, recebendo residentes da área de saúde e realizando jornadas médicas em convênio com outras universidades e parceiros apoiadores. O PSA participa com ações complementares.
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