
A riqueza dos Mura: na foto, o secretário da Semig, Ronney Peixoto (esquerda), José Pereira, líder dos Mura (cocar), Wilson Lima (barba) e o presidente da Potássio do Brasil, Adriano Espeschit (direita)
Os povos indígenas da etnia Mura, pelos representantes de 36 aldeias e 12 mil indígenas, deram um passo importantíssimo. Eles disseram “sim” à exploração da silvinita, o minério de potássio, distante oito quilômetros da Terra Indígena Mura, em Autazes-AM. A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) determina que os povos indígenas, incluídos em um raio de 10 quilômetros do empreendimento, devem ser ouvidos sobre a exploração econômica.
O gesto dos indígenas traz luz às discussões sobre mineração no Amazonas. A “riqueza dos Mura”, traduzida em royalties milionários que receberiam, pode deixar de levar aspas, mas o caminho é longo.
Restou, do período da ditadura, um véu sobre o chamado “ouro de Moscou”. Seria o dinheiro para financiamento da resistência, que traria alento para o golpe final contra o regime dos generais. Até hoje ninguém sabe se o dinheiro veio ou se não passou de lenda.
A riqueza dos Mura pode perder virar lenda, como o ouro de Moscou, ou romper as aspas, basta que a produção de potássio em Autazes se torne realidade.
O que são os Mura de Autazes? Índios com um modo de vida caboclo, sobrevivendo da pesca, caça, do subsídio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Bolsa Família. São o próprio retrato da pobreza, num quadro que se agrava ainda mais diante das sazonalidades de enchente e vazante dos rios da região, como se vê agora.
Com a vazante à beira de novo recorde, neste presente momento, os Mura de Autazes são um retrato do caboclo amazonense, em situação de penúria.
A Potássio do Brasil trabalha na prospecção e está pronta para a instalação que propiciará a exploração do potássio de Autazes. Nos próximos 23 anos, até 2066, a empresa pretende investir US$ 2,5 bilhões (quase R$ 13 bilhões) nesse processo. Só para construir a planta industrial precisará de quatro anos.
O secretário estadual de Mineração, Gás e Energia (Semig), Ronney Peixoto, tem um cálculo do que os royalties farão na vida dos Mura. Afirma que a renda mensal de cada indígena saltará do valor irrisório do Bolsa Família para algo em torno de R$ 20 mil.
O governador Wilson Lima está decidido. Criou a Semig. Investiu prestígio e recursos estaduais na exploração do gás, com destaque para a reconstrução da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara) e disso o Estado já colhe os frutos. Agora recebe dos Mura o aval para insistir ainda mais na exploração do potássio.
A exploração das jazidas de silvinita de Autazes é a ansiada nova vertente econômica do Amazonas. É a solidificação da economia brasileira, que importa 98% do potássio que fertiliza o agronegócio, com enorme dependência do exterior. São 13 milhões de toneladas/ ano e Autazes produziria 2,2 milhões de toneladas/ano.
A Potássio do Brasil é subsidiária da Brazil Potash Corp, que tem capital inglês, australiano, canadense e brasileiro. Tem demonstrado enorme boa vontade em realizar o negócio e gerar o tal “desenvolvimento sustentável”, aquele que une o respeito ao meio ambiente com o crescimento humano.
A riqueza dos Mura, portanto, é palpável e não é só deles. A riqueza dos Mura precisa perder as aspas, urgente, porque ela é do Brasil.
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