
Pastor mergulha em cemitério para cultos dos que são enterrados em valas coletivas, com apenas cinco familiares presentes
Pastor evangélico oferece ofícios religiosos aos corpos que estão sendo enterrados em valas coletivas no cemitério Nossa Aparecida, Parque Tarumã. O trabalho é voluntário e gratuito. “Cheguei aqui às 9h e fico até às 16h. Não havia autorização, mas consegui liberação do chefe da segurança. Ele me disse que até agora não tivemos nenhuma confusão, como nos outros dias. Deus está presente”, disse Francimar Pontes Soares.
Ouça o depoimento dele:
Um decreto municipal, no contexto do combate ao coronavírus, limita a entrada por sepultamento a apenas cinco pessoas. Todos precisam ser familiares da vítima. Há dezenas de vídeos circulando nas mídias sociais com confusões e desespero emocional no local das covas coletivas.
O pastor informa que, pela manhã, oficiou para 13 sepultamentos. “Saí de casa disposto a fazer esse trabalho porque as pessoas estavam sendo enterradas sem um ato religioso”, disse. “Há uma fila de carros funerários esperando, na entrada do cemitério, para os próximos enterros”, revela.
Francimar parou apenas para o almoço, quando também há um intervalo nos sepultamentos. Ele tinha na mochila três garrafas d’água e algumas bananas, mas foi surpreendido pelo chefe da segurança. “Pastor, as quentinhas nunca são suficientes para todos nós e hoje sobrou uma. Entendi que era para o senhor”, disse o funcionário.
Ouça o testemunho do pastor:
“Há espaço para outros pastores. O trabalho é grande. Aqueles pastores que estiverem livres e queiram colaborar venham para cá. Vamos trabalhar juntos para levar conforto a essas famílias”, disse.
Vala coletiva
O pastor se postou no coração do Parque Tarumã, o local que se tornou famoso no mundo inteiro por conta da vala coletiva. “Os caixões são enterrados um ao lado do outro e as famílias mal conseguem se despedir”, testemunha.
As covas coletivas foram adotadas em várias cidades, como New York, e são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Elas estão entre as medidas adotadas para diminuir o contágio, em meio à pandemia do coronavírus.
Os cartórios de Manaus, que registram Atestado de Óbito (AO) de todas as mortes ocorridas na cidade, têm um balanço estarrecedor. Eles aumentaram o número de cartórios para emissão do documento. E mostram que o recorde ocorreu na segunda-feira (27/04), quando foram registrados 174 óbitos.
A Secretaria Estadual de Saúde (Susam) e a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) esperam por exames do Laboratório Central (Lacen) para incluir mortes nas vítimas da Covid-19. Os laboratórios das fundações de Medicina Tropical e Fiocruz se juntaram agora a esse trabalho.
De janeiro a abril de 2019, Manaus teve 3.947 óbitos, segundo os cartórios. No mesmo período, em 2020, as mortes saltaram para 5.530. Abril é o mês onde se deu o maior salto, com 974 ano passado e 2.484 este ano. Fica evidente a influência da pandemia.
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