
Muros pichados com sigla de facção, fogos e mortes anunciam novo capítulo de guerra do tráfico. Foto: Divulgação
Onze meses depois do último massacre no sistema prisional do Amazonas, quando 55 presos foram mortos por asfixia e perfurações dentro de quatro cadeiras, em maio de 2019, o Estado vive um clima de tensão dentro das prisões e fora delas.
Nas últimas horas, vários bairros da capital amanheceram com muros e becos pichados com a logo de uma das facções criminosas em ação na capital, o Comando Vermelho (CV), como Viver Melhor, Jorge Teixeira, Lago Azul e Coroado. No Coroado, inclusive, durante uma execução na tarde desta segunda-feira (10), nas proximidades do crime foi deixada a sigla CV em letras vermelhas. Vídeos, fogos e salves tem sido espalhados nas redes sociais, para aumentar o medo de moradores.
Muros pichados
Segundo populares, foguetórios acontecem nas áreas dominadas pelo tráfico, especialmente quando uma execução acontece, com forma de comemoração. As últimas mortes estariam relacionadas a uma tomada de poder pelo Comando contra a facção Família do Norte (FDN). No último domingo, em razão de instabilidade no sistema prisional, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) suspendeu as visitas a quatro cadeias.
Tanto no massacre do ano passado quanto na chacina no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), registrada em 2017, a FDN foi apontada pelas forças de segurança do Estado como “autora” e “mandante” da série de mortes violentas, sessões de esquartejamento, decapitações e torturas nos presídios. Agora, o CV daria o troco à facção arqui-rival.
As cenas, muitas vezes, são repetidas na guerra do tráfico, nas ruas da capital e no interior, entre soldados ou pessoas ligadas às facções, incluindo as famosas blindadas e namoradas de traficantes.
Histórico
Ano passado, após as mortes registradas no Estado, o ministro Sergio Moro solicitou que a Polícia Federal instaurasse inquérito para investigar os crimes. De acordo com o pedido, os crimes ocorridos representavam grave violação de direitos humanos.
Além disso, há interesse da União na repressão de organizações criminosas com atuação em mais de um Estado da federação, bem como na repressão ao tráfico internacional de drogas. A FDN teria ordenado os assassinatos.
Vários salves de facções criminosas foram divulgados, como agora, e buscavam atribuir responsabilidade e motivação à série de mortes. Haveria sinais de um complô armado por membros da própria FDN que teria resultado nas 55 mortes nas cadeias.
Racha
Em 2019, fontes da segurança pública confirmaram um racha na facção, uma guerra declarada pelo controle no topo do tráfico entre os fundadores da organização criminosa, José Fernandes Barbosa da Silva, o Zé Roberto da Compensa, ou Mano Z, e o narcotraficante João Pinto Carioca, o João Branco. Ambos estão em presídios federais.
A ordem teria partido da ex-mulher de João Branco, Sheila Faustino Peres. Ela teria motivado, no passado, a morte do delegado de Polícia Civil, Oscar Cardoso, no dia 9 de março de 2014.
As mortes nas cadeias ocorreram no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), no Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM 1), no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) e na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP), todos localizados em Manaus.
Em maio do ano passado, um grupo de nove detentos, listado como envolvido na série de assassinatos, foi transferido para presídios federais de segurança máxima.
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