Rebelião no presídio de Parintins termina com rendição e dois mortos entre presos, um decapitado

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Tensão chegou à população na frente do presídio, que fica em frente ao Colégio Estadual Senador João Bosco e próximo ao curral do Bumbá Caprichoso

Mais de 60 presos se rebelaram no presídio do Município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), por volta do meio-dia desta segunda-feira (1º/09). O detento Admil de Souza, conhecido por Cuiú, condenado por violência doméstica, foi decapitado e teve cabeça e mão jogados por cima do muro, durante o motim. O autor da barbaridade teria sido o presidiário Antônio Pereira. Outro morto foi Paulo Eliézer Nascimento, condenado por estupro, exibido no muro com facão no pescoço, acorrentado e morto com perfurações e espancamento.

Por volta das 20h, com a chegada do Pelotão de Choque de Manaus, todos se renderam e foram deslocados para a Escola Estadual Senador João Bosco, que fica em frente ao presídio.

O clima ficou muito tenso. Os rebelados ameaçaram explodir botijas de gás da cozinha. Familiares, desesperados, tentaram invadir o presídio e tiveram que ser contidos pelos policiais. Mais de 20 presos, porém, se entregaram à polícia durante a rebelião.

O detento  de nome Juvenal é apontado como líder da rebelião e teria cumprido pena em Manaus por dois homicídios e tráfico de drogas. A advogada dele, Sinatra Santos, entrou no presídio e conversou com ele, afirmando que o detento negou a liderança.

A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) enviou um efetivo de 50 policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar, que chegou a Parintins por volta das 17h. O destacamento ficou sem ter como chegar à penitenciária e a população foi convocada a ajudar no transporte dos policiais.

Os presos exigiram a presença do juiz e do promotor de Justiça do Município e de membros da Pastoral Carcerária nas negociações. Eles reclamaram da superpopulação no presídio, que foi construído para abrigar 30 presos e hoje tem 205, da alimentação precária e da mistura de presos, sem divisão conforme o tipo de crime.

A cidade viveu um dia de tensão, já que o presídio fica situado no Centro da cidade, próximo à escola com cerca de 4 mil alunos, o Colégio Estadual Senador João Bosco. Também fica perto do estádio Tupy Catanhede e do curral do Boi Bumbá Caprichoso. Por conta da rebelião, as aulas foram suspensas em todas as escolas da cidade, no turno noturno.

 

Famílias dos presos

A Prefeitura de Parintins informou que está prestando apoio às famílias dos presos, por conta da rebelião no presídio do Município. O prefeito Alexandre da Carbrás (PSD) lamentou o ocorrido e determinou que as secretarias Municipais de Saúde e Assistência Social ofereçam atendimento psicossocial às famílias.

Segundo o prefeito, o hospital Jofre Cohen está com reforços para atender os feridos, caso sejam levados para a unidade. Ao ser informado sobre o episódio, Carbrás destaca que entrou em contato com o governador José Melo, que enviou a Tropa de Choque ao Município para controlar a rebelião, e disse que dialoga com o Estado para que a cidade tenha a situação do sistema prisional solucionada. “Em recente contato com a Secretaria de Estado de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Sejus) tivemos a informação da construção de um novo presídio. A Prefeitura entrará com a doação de um terreno, que é inclusive maior do que nos foi solicitado”, afirmou.

Fumaça negra saindo do presídio, na hora mais tensa

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Só a chegada do Batalhão de Choque, deslocado de avião de Manaus, pôs fim ao motim

A nova unidade deverá ter capacidade para cerca de 500 presos. Carbrás destacou que o problema no sistema prisional já era para ter sido solucionado em Parintins como em outros  Municípios do Estado. Ele lembrou que, em 2009, a Prefeitura de Parintins se negou a doar uma área para construção de uma unidade prisional. “Estamos à disposição do Governo do Estado, que tem se mostrado sensível com a situação”, enfatizou o prefeito.

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1 comentário

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  1. Tristeza na Cidade de Parintins
    Pe. Prof. Dr. Manuel do Carmo da Silva Campos
    Dia 02.07.2014

    Muita tristeza ter ocorrido isso em Parintins a rebelião no presídio público. Não eram comuns esses episódios nessa Cidade, mesmo já tendo o acontecimento do crime do Areial em tempos passados. Esse acontecimento evidencia ausência da vida educacional e moral das pessoas que cometeram os crimes para estarem no presídio e que continuam a se manifestar, embora nem todos participassem desses últimos crimes. Também fica clara a ausência do estado em cuidar da sociedade, entre os componentes dela os presos. Já no período do iluminismo se elaborou e estabeleceu o direito digno dos presos. O estado brasileiro em sua constituição e código de direito prevê isso. Infelizmente no cotidiano prático da vida da polis não é o que acontece. Estamos no período das eleições e o derramamento de dinheiro vindo de todos os lados é o que vemos, mas as políticas públicas não são efetivadas. Não é pelo fato das pessoas estarem presas que devem viver como animais para o matadouro, como também essa não é a melhor forma de certos presos reivindicarem melhorias para as prisões. É necessário maior investimento na prevenção, pois as consequências são violentas quando isso não acontece. Precisa maior empenho na educação seja no âmbito formal como informal. O trabalho ético com maior expansão. O religioso evidenciando a fraternidade deve ser uma constante. Episódios que não evidenciam fraternidade, cidadania, justiça e paz colocam em cheque o discurso vazio do Estado, das Igrejas, das Escolas e das instituições representativas da sociedade civil, pois se pergunta quais os objetivos de suas existências? Crescem o número de igrejas diversas, de escolas formais, melhoram as dimensões e aparatos do Estado e as variedades de aspectos familiares. Tudo isso tem em seu favor a mídia. Mas a sociedade continua errando. Já dizia Sócrates “quem sabe o que é certo, não faz o errado”. Saber o que é certo implica praticar o certo ao mesmo tempo em que sabe, se isso não ocorrer a pessoa e a sociedade pensa apenas que sabe. Saber não significa conceituar, mas viver o que conceitua. Jesus pregou e viveu ao mesmo tempo a Fraternidade, isso faz as Igrejas Cristãs? Tanto se lutou pela presença do Estado como propositor, interventor e mediador do bem comum para todos, desde os primeiro filósofos, passando por Locke, Hume, Rousseau, Montesquieu e se chegou ao Estado de direito, seus constituição e códigos de direitos. Isso sem falar nas instâncias da Ciência. É necessária a implantação de um parlamento mundial onde se faça assentar e pensar no ser humano, na natureza e no rumo que o planeta está indo, em tal parlamento deve se fazer presente a Filosofia, as Crenças – Religiões e a Ciência, pois é esse triple que é o responsável pelas instâncias da terra. Essa recomendação do pensador francês Edgar Morin não pode ser desconsiderada. Pois só alcançaremos a paz quando ela for fruto da justiça é o que prevenia o Papa Paulo VI fazendo alusão a prática cristã e que continua propondo o novo Papa Francisco. Na realidade é o que os verdadeiros seres humanos de bem querem. Vamos nos empenhar por isso.
    Pe. Manuel do Carmo da Silva Campos, o amigo de sempre.