Comunidade católica recebe imagem de Nossa Senhora da Amazônia digitalizada

Uma Maria de Nazaré com feições entre indígena e cabocla, o tradicional manto azul cobrindo uma bata bordada com detalhes do artesanato waimiri-atroari, sobre vitória-régia florida e adornada com orquídeas. O menino Jesus desnudo e carregado por uma faixa vermelha. É assim a imagem de Nossa Senhora da Amazônia concebida pela designer Lara Ferreira Denys, 23, vencedora do concurso instituído pelo grupo Cenáculo da Oração e coordenado pelo padre italiano Stefanello Reneu, entregue em missa campal, no Largo de São Sebastião, presidida pelo arcebispo Dom Luís Soares Vieira.

“Nossa Senhora não é judia? Sim, mas no Japão ela aparece com feições japonesas e o menino Jesus como japonês e na África ela é negra. Queremos uma Nossa Senhora parecida com a gente porque ela nos ama”, disse o arcebispo, durante a celebração, acrescentando que “a Amazônia não é somente a mata, não é somente os rios, mas é, sobretudo, o povo, que tem fé”. O arcebispo também deixou uma mensagem ambiental: “Esse título de Nossa Senhora da Amazônia é para que ela interceda por nós para que cresçamos com respeito e vivendo numa casa (a Amazônia) que precisa se desenvolver, mas não pode ser arrebentada”.

Formada em Design de Interface Digitais pela Fucapi, Lara Denys está fazendo especialização em Design Estratégico e, ao contrário dos artistas plásticos tradicionais, não cria em óleo sobre tela. “O padre Reneu teve que recorrer aos livros (cânones) do Vaticano para saber se imagem digital pode ser recebida como arte sacra. Com o sinal positivo, eu fui pesquisar para entender como é o semblante do caboclo, do índio, como eles carregam as crianças e outros detalhes que ajudaram na composição”, disse a design.

A pesquisa levou Lara à vitória-régia, uma planta aquática que cresce até dois metros de diâmetros e serve de apoio para aves migratórias. “A flor dela floresce só à noite e solta um aroma diferente. Ela fica enraizada num solo que não é fértil e só cresce em terrenos pobres. A planta tem toda uma analogia com a origem de Nossa Senhora, que também veio de um lugar muito pobre”, explica a artista. “A orquídea tem todo apelo do corpo feminino e é da nossa região”. Vitória-régia, florida, e orquídeas, são o pedestal da imagem.

Filha de católicos-praticante – o pai, advogado Átila Denys, fez em outubro os 800 quilômetros do Caminho de Santiago, na Espanha, a pé (http://www.portaldomarcossantos.com.br/peregrinos-no-caminho-de-santiago/) – Lara havia terminado todo o trabalho e estava pronta para entregá-lo quando o HD externo onde estavam os arquivos caiu no chão e todos os dados foram apagados. “Perdi meu portfólio inteiro. Tive que refazer a imagem e ainda bem porque acho que o trabalho anterior estava mais grosseiro. Tinha que ter dessas coisas, trabalhando com Nossa Senhora…”, disse.

A artista só ficou surpresa com o assédio do público. “Virei pop star baré por menos de 15 minutos”, brinca. “Queria que todo mundo olhasse e se reconhecesse na imagem. Mãe é isso. A gente olha e se reconhece. Queria que ela tivesse a cara da Amazônia. Algumas pessoas disseram: ‘Achei interessante porque ela é bem realista’. Só depois entendi que, como não sei trabalhar o abstrato, desenho de forma muito fiel, buscando a realidade, que está no rosto da imagem, isso foi captado pelo povo”.

O passo seguinte é o estabelecimento do grupo Cenáculo da Oração como Paróquia de Nossa Senhora da Amazônia e a construção do Santuário de N.S. da Amazônia. “Temos só uma face da imagem e uma empresa especializada vai digitalizá-la em 3D, o que deve demorar em torno de dois meses, e depois enviá-la para um escultor, que vai esculpi-la em resina, com um metro ou pouco mais que isso de tamanho”, revela Lara.

A vencedora do concurso constatou que a maioria das imagens de Nossa Senhora existentes no mundo resulta de aparições. “Cheguei a ouvir sobre aparições que estão ocorrendo no Amazonas, mas não tem nada a ver com isso não. A imagem é resultado de muita pesquisa”, revela.

Por enquanto, o quadro entregue a Dom Luís por Lara, no ponto alto da missa campal desta noite, vai ser entronizado na capela que está sendo construída em terreno doado pela família Loureiro, na Ponta Negra.